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APRESENTAÇÃO
SOBRE O XIII COLÓQUIO VAZIANO
Sacerdote jesuíta e autor de importantes obras de filosofia, Lima Vaz deixou um grande legado, fruto de anos de reflexão sobre os desafios com os quais se viu concretamente confrontado. Podemos reconhecer nessa vida, que em 2021 completará cem anos de existência, um modelo de vida que buscou ser sempre mais.
A realização da própria vida é compreendida por Lima Vaz como um desafio permanente. Somente ao ser humano é dado atualizar, por meio do próprio agir, aquilo que se é por essência. Assim, a vida se apresenta como tarefa nunca completamente cumprida. Cada um de nós deve assumir a responsabilidade de significar a própria vida e, desse modo, encontrar o caminho da própria realização.
Para comemorar o centenário de Lima Vaz, o Grupo de Estudos Vazianos (GEVaz) organizou um ciclo comemorativo de colóquios, cujo tema é “Henrique Cláudio de Lima Vaz, 100 anos! O legado de uma vida realizada”. Em cada ano o tema da realização será discutido a partir de uma obra fundamental deste importante pensador. O colóquio de 2019, ao propor uma reflexão sobre a realização a partir da perspectiva da Antropologia Filosófica, teve como tema Realização: um chamado ao “torna-te o que és”. Neste ano, ao assumir como principais obras de referência os dois volumes da Introdução à Ética Filosófica, o Colóquio terá como tema “A realização: um desafio Ético e Político”. Finalmente, em 2021, a realização será pensada a partir da perspectiva da obra Raízes da Modernidade. O tema do Colóquio será “A pessoa humana entre o tempo e a eternidade”.
HENRIQUE CLÁUDIO DE LIMA VAZ, 100 ANOS!
O legado de uma vida realizada
2019 – A Realização: um chamado ao “torna-te o que és”
2020 – A Realização: um desafio Ético e Político
2021 – A Realização: “a pessoa humana entre o tempo e a eternidade”
OBJETIVO
Em 2021, o filósofo brasileiro Henrique Cláudio de Lima Vaz completaria cem anos. Com o intuito de comemorar está importante data, o Grupo de Estudos Vazianos (GEVAZ), da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, está organizando um ciclo de Colóquios que pretende refletir sobre a Realização, tema caro à reflexão de Henrique Vaz. Com o objetivo de discutir sobre este tema, o XIII Colóquio Vaziano, que conta com o apoio da Escola Superior Dom Helder, pretende reunir professores, pesquisadores e estudantes interessados na pesquisa sobre a obra de Henrique Cláudio de Lima Vaz e na problemática da realização. Trata-se, pois, de promover um espaço de divulgação e discussão de pesquisas realizadas e em andamento.
PROGRAMAÇÃO
CONFERÊNCIA + DEBATES + COMUNICAÇÕES
19/08/2020
20h00 | Conferência TRANSMISSÃO AO VIVO PELO YOUTUBE
Realização segundo Lima Vaz: noção e requisitos
Prof. Dr. João A. Mac Dowell (FAJE)
20/08/2020
08h00 às 11h00 - Comunicações
14h00 às 17h00 - Comunicações
20h00 | Debate TRANSMISSÃO AO VIVO PELO YOUTUBE
Prof. Dr. Émillien Vilas Boas (ESDHC)
Prof. Dra. Magda Guadalupe (UEMG/PUC-MG)
21/08/2020
08h00 às 11h00 - Comunicações
14h00 às 17h00 - Comunicações
20h00 | Debate TRANSMISSÃO AO VIVO PELO YOUTUBE
Porf. Me. Manoel dos Reis Morais (TJMG/ UFMG)
Prof. Dra. Maria Celeste (Faculdade Católica de Fortaleza)
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Pronunciamento de Artur de Távola em 29.05.2002
O SR. ARTUR DA TÁVOLA (Bloco/PSDB – RJ)
– Sr. Presidente, peço a palavra como Líder, por cinco minutos.
O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) – V. Exª tem a palavra.
O SR. ARTUR DA TÁVOLA (Bloco/PSDB – RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.)
– Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero trazer hoje aqui, lamentavelmente, três registros de mortes que nos afetaram profundamente.
O próprio Presidente da República me pediu que proferisse uma palavra, sobre tudo dirigida ao Comitê de Imprensa, pela morte da jornalista Carmen Kozak, a quem todos nós desta Casa, principalmente os que estão aqui há mais tempo, aprendemos a admirar nesse convívio complexo e, ao mesmo tempo, amistoso, nesse amálgama de contornos curiosíssimos, que é a relação do Parlamentar com a imprensa.
Carmen Kozak se distinguia por ser uma pessoa de grande timidez pessoal, compensada por uma sutileza no trato e uma capacidade, como jornalista, de dar a quem entrevistava a sensação de aqui ali estava – ele, o entrevistado – a melhor pessoa do mundo.
Esta é uma das técnicas nem sempre usada, porém muito eficaz em comunicação e em entrevista: dar ao entrevistado uma sensação de bem-estar, inclusive levando-o a dizer muito mais do que o que diria quando fica acuado.
Foi um impacto grande a morte de Carmen Kozak para os seus companheiros jornalistas e para os Parlamentares que conheciam a sua seriedade. Por tanto, quero que esta manifestação conste dos Anais do Senado, de vez que a imprensa é partícipe dos trabalhos da Casa; faz parte da dialética do próprio Parlamento a repercussão na imprensa. E, dentro dessa relação tão complexa, que às vezes até se transforma em uma relação de poder conflitante, aqueles, tanto Parlamentares quanto jornalistas, que se destacam nessa capacidade estão colaborando para o bom andamento dos trabalhos.
Em segundo lugar, quero encaminhar à Mesa um pedido para que, em data a ser marcada, a Hora do Expediente da nossa sessão seja dedicada a homenagear o político João Amazonas, que também faleceu nesses dias. E, nada obstante não participar da sua visão política, mas haver estado com ele em muitos episódios da vida brasileira, em seus 90 anos, creio que é importante o Senado Federal realizar uma sessão em homenagem àquela vida de coerência e de grandeza.
Finalmente, faço um terceiro registro, ainda doloroso, e esse não será talvez de uma figura pública.
Faleceu, em Minas Gerais, aos 80 anos, uma figura exemplar da Igreja Católica: o Padre Henrique de Lima Vaz, que, nos anos 60, exerceu uma influência político-ideológico-doutrinária muito grande sobre uma geração, na época em que a Igreja Católica caracterizava-se por uma posição extremamente conservadora. Refiro-me à Igreja pré-João XXIII. O Padre Henrique de Lima Vaz, juntamente com o dominicano francês, até expulso posteriormente do Brasil, o Frei Cardonel, e um outro padre francês, o Padre Lebret, levantou a bandeira da causa social dentro da doutrina da Igreja Católica.
O Padre Henrique de Lima Vaz formou um grupo muito curioso de jovens, à época, e eu estava entre eles e era o menos qualificado entre todos. Também faziam parte do grupo Cacá Diegues, extraordinário cineasta; o grande Betinho, essa espécie de santo leigo da vida brasileira, o qual deixou uma legenda; e o atual Deputa do do PcdoB, à época católico, nosso companheiro de geração e amigo de lutas, Aldo Arantes, Deputado Federal há várias legislaturas por Goiás.
Enfim, ele foi um grande pensador de uma ligação filosófica profunda entre os ideais cristãos e os ideais de um pensamento social avançado. Era um homem de extrema modéstia. Em um certo momento, foi proibido, inclusive, de dar aulas. E, ainda assim, seja na formação de religiosos posteriores, seja na formação de quadros políticos, deixou sementes que prosperaram de uma maneira notável, pela sua grande cultura. Ele, que era doutor em Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma, tendo exercido durante muitos e muitos anos este prodígio que é o professorado, era um professor humilde, recatado, discreto, que deixou, porém, sementes inesquecíveis em todos os que por ali passaram.
Também o Movimento da esquerda católica chamado AP, que, até recentemente e ainda agora, está presente na vida brasileira, surgiu das idéias defendidas, nos anos 60, pelo Padre Henrique de Lima Vaz. O atual candidato à Presidência da República José Serra é oriundo da AP. O antigo Chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, é oriundo da AP. O Assessor do Presidente Fernando Henrique Cardoso e o falecido ex-Ministro das Comunicações, Sérgio Motta, vieram também dessa formação, dessa escola que percorreu o pensamento católico por dentro e – eu até brincava com o Presidente da República, dizendo que a AP era quem estava no poder – tem origem naquele pensamento dos padres que tiveram a coragem de aproximar as idéias sociais da Igreja da grande luta por uma socieda de mais justa.
Faço, com muito pesar, esses três registros, agradecendo a V. Exª pela concessão do tempo e aos Srs. Senadores pela atenção às minhas palavras.
Citação:
Fonte: Diário do Senado Federal, 30 de maio de 2002. Artur da Távola
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/pronunciamentos/-/p/texto/325006
http://www.senado.gov.br/web/cegraf/pdf/29052002/09717.pdf
http://www.senado.gov.br/web/cegraf/pdf/29052002/09718.pdf
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Citação:
**SANTOS, José Henrique. Padre Vaz, filósofo de um mundo em busca de sentido. Boletim Informativo da UFMG. Nº 1353 - Ano 28 - 13.06.2002
Com a morte do padre Henrique Cláudio de Lima Vaz, professor emérito da UFMG, o pensamento brasileiro perde seu mais expressivo filósofo. Seu trajeto filosófico estende-se por toda a filosofia ocidental, num arco que vai de Platão até o exame da modernidade mais recente, sobre a qual versa seu último livro, Raízes da Modernidade, que não chegou a ver impresso, pois saiu da editora no exato dia em que morreu.
Dono de um conhecimento prodigioso de toda a tradição clássica, lida nas fontes originais e intensamente meditada, não ficou preso à exegese erudita dos textos. O conhecimento da metafísica grega, aliada ao estudo dos autores cristãos, deu a seu pensamento a densidade necessária para enfrentar o criticismo moderno. Dois autores despontam como referência obrigatória: Santo Tomás, espécie de norte magnético a indicar a direção, e Hegel, esse novo Aristóteles enciclopédico que se aventura a rememorar toda a cultura ocidental.
Para chegar a Hegel, contudo, há que se atravessar a imensa barragem das três críticas de Kant. Padre Vaz estudou-as com exemplar cuidado. Para sair de Hegel, no entanto, a modernidade exige um rito de passagem por Marx. Henrique Vaz não se esquivou dessa passagem, mas realizou-a como que de modo preventivo, antes mesmo de iniciar-se em Hegel.
Os conturbados anos 60 da vida brasileira fizeram-no compreender as urgências da política e impuseram-lhe a tarefa de uma leitura crítica e cristã do pensamento marxiano. Para entender o mundo moderno, aconselhava Hegel, substitua-se a prece matutina pela leitura dos jornais; Vaz corrige o mestre alemão: a leitura após a prece dará, sem dúvida, frutos melhores. A juventude católica não haveria de renunciar à fé pela política, deveria antes dar o testemunho da fé na própria militância política. Seus escritos daquela época não deixam dúvida quanto a esta opção definitiva. Em sua última entrevista, Padre Vaz fala de sua participação política naqueles anos, do trabalho com a Juventude Universitária Católica (JUC) e com o Movimento de Educação de Base, bem como de textos, como Cristianismo e Consciência Histórica, de 1961, que exerceram considerável influência nos movimentos cristãos, embora, modestamente, dissesse que "eram textos de reflexão, não de ação". Os estudos sobre Hegel desenvolvem-se a partir de 1970, na UFMG, através de uma série de cursos sobre o filósofo da Fenomenologia do Espírito, que se estenderam até sua aposentadoria, em 1987. Foram cursos memoráveis sobre a Fenomenologia, a Ciência da Lógica, a Enciclopédia das Ciências Filosóficas e a Filosofia do Direito. Vem desta época seu renome como especialista na filosofia de Hegel, da qual, de fato, tornou-se tão conhecedor quanto já era da filosofia platônica.
Tão importantes quanto os estudos sobre Hegel são os livros que publicou nos últimos anos: a série dos Escritos de Filosofia, em cinco volumes, sendo três sobre ética; os dois volumes sobre Antropologia Filosófica; e o breve, mas substancial Experiência Mística e Filosofia na Tradição Ocidental. Por fim, o livro póstumo ao qual já me referi: Raízes da Modernidade.
Quero, porém, deter-me em duas obras fundamentais para entender a trajetória intelectual e o caminho espiritual de Padre Vaz: os dois volumes sobre antropologia filosófica e o livro sobre a mística. A primeira parte da Antropologia expõe criticamente as concepções sobre o homem na filosofia ocidental, enquanto a segunda empreende uma discussão dos conceitos subjacentes à idéia de uma antropologia filosófica.
A filosofia crítica de Kant formulou três perguntas fundamentais: Que posso saber?; Que devo fazer?; Que posso esperar? A primeira é teórica e deve ser respondida pela ciência; a segunda, prática, deve ser respondida pela filosofia (ética); a terceira, religiosa, só pode ser respondida pela fé. Resumiu as três questões numa única: Que é o homem?
Henrique Vaz aprofunda a questão. Após o exame histórico, retoma o problema em sua origem e estuda as categorias que permitem compreender o homem: objetividade, intersubjetividade e transcendência. Cada categoria ultrapassa a antecedente, mas a mantém implícita. Assim, a categoria de intersubjetividade não nega que o homem seja um objeto, mas indica que é um objeto que nega a si próprio para tornar-se sujeito; a intersubjetividade "sublima" a categoria de objeto, ao mostrar que o sujeito espiritual estabelece com outro sujeito uma relação eu-tu, base da comunidade espiritual e humana do nós. Cada eu é o outro de um outro. Esta segunda categoria permite pensar os conceitos de espírito e pessoa. A terceira categoria, transcendência, conserva a intersubjetividade, mas, ao mesmo tempo, a transcende na direção do Absoluto. Em capítulo inspirado, mostra que a noção de transcendência perturba a inércia do pensamento e o leva à reflexão radical que forma o impulso que move a filosofia: "a reflexão sobre a transcendência", escreve ele, "constitui a terra natal da filosofia" (Antropologia, vol. II, p. 114). Esta tese permite-lhe descobrir a presença do Absoluto: o fim não poderia advir se não estivesse antes no princípio. A Antropologia Filosófica culmina num capítulo sobre a categoria de pessoa, articulada entre o tempo e a eternidade. "O ser e o modo dessa eternidade permanecem inacessíveis à demonstração filosófica. Dela, no entanto, uma figura ou imagem transparecem justamente nesse dinamismo da auto-afirmação e nesse surto profundo do eu sou que passa além de todo eidos finito e tende à plenitude infinita do ser" (vol. II, p. 236). A demonstração filosófica não vai além da indicação de um caminho transcendente que o homem deve percorrer. É a versão conceptual da sede de infinito que experimentamos em nossa vida finita e incompleta.
A antropologia filosófica culmina no conceito de homem como pessoa e espírito, deixando claro que o espírito é uma exigência que não se satisfaz com qualquer determinação finita. Assim, a antropologia filosófica não pode ser aprisionada na precariedade da vida mate-rial. Ela deve, pois, transformar-se em cristologia, pois o homem é incapaz de ser o mediador de si mesmo no caminho do Absoluto. Cristo é o mediador absoluto.
Na missa comemorativa de seus 80 anos, Henrique Vaz reiterou sua profissão de fé diante dos discípulos e amigos que foram saudá-lo: "Eu amo o Cristo". Nove meses depois, na missa de corpo presente, a comunidade, em resposta, cantou: "... e neste Homem / o homem enfim se descobriu". Ecce homo. Deus o acolha entre os santos.
**Professor titular do departamento de Filosofia da Fafich e ex-reitor da UFMG.
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